Estudo das moças - Parte 2

Chegou até nós texto cujo autor defende que as mulheres levem uma vida intelectual aprofundada empregando nos estudos o tempo que sobra após o cumprimento de seus deveres de estado.
Este autor pretende que mães e esposas se ocupem de estudar a fundo coisas como metafísica, teologia, filosofia, muito embora reconheça que não teriam muita aplicação prática. E pretende justificar sua opinião sob a máxima "a mulher sábia edifica a sua casa", que, embora verdadeira, está sendo mal empregada, e em Santo Tomás de Aquino.

Desde que lemos tal escrito, vimos nos perguntando se a pessoa responsável seria eventualmente mãe e esposa, e se teria alguma graduação. Pois, ora, se os estudos exigidos por uma faculdade, via de regra, não podem acontecer somente no tempo que sobra, quanto mais essa pretensa "busca da verdade" que se defende. Se uma pessoa solteira já não conta com muito tempo livre, dados os afazeres de rotina que uma casa demanda, orações diárias e demais obrigações a cumprir, quanto mais uma senhora, com esposo e filhos para cuidar, e a administração do lar que lhe cabe.
Então, queremos acreditar que esse posicionamento é fruto de um misto de ingenuidade e excesso de vivência no mundo ideal, e não de contaminação por um pensamento revolucionário.

Mulheres, entre outras coisas, devem ter senso prático, por exigência de sua própria rotina. Qual o propósito, então, de se empregarem 4, 6, 8 horas do dia em algo que reconhecidamente não trará benefícios de ordem prática? Para quê? Para obter o conhecimento pelo conhecimento? Para que uma senhora, mesmo com tantos afazeres, dedique-se a disputatios? É vazio.

Note-se que não dizemos aqui que a mulher não pode estudar. Não apenas pode como deve, principalmente dados os tempos de confusão que vivemos, a crise na Igreja e a falta de quem nos dê uma boa catequese. Mas, tal instrução deve acontecer segundo o próprio estado - sendo, inclusive, pecado contra a fé a negligência desse dever (tanto para homens quanto para mulheres). Em se tratando das senhoras, é de crucial importância conhecer a sua fé, para bem transmiti-la aos filhos. Faz por bem, ainda, dominar os campos das artes, corte e costura, culinária, puericultura, economia doméstica e outros assuntos, tudo o que se empregue no bom cumprimento de seu dever de estado.

E é preciso, além de tudo, fazer uma distinção: conhecimento não é sinônimo de sabedoria e nem de santidade, e nem condição sine qua non para alcançá-las. O que deveria ser óbvio, já que boa parte de nós já conheceu, em algum momento, uma senhorinha que criou seus numerosos filhos, que mal-e-mal frequentou a escola, e que é notoriamente mais sábia e piedosa que os alunos desses cursos online.

Diz Tomás de Kempis: "na verdade, não são palavras elevadas que fazem o homem justo; mas é a vida virtuosa que o torna agradável a Deus. (...) Se soubesses de cor toda a Bíblia e as sentenças de todos os filósofos, de que te serviria tudo isso sem a caridade e a graça de Deus? Vaidade das vaidades, e tudo é vaidade". E diz mais: "a suprema sabedoria é esta: pelo desprezo do mundo tender ao reino dos céus". E, ainda: "Todo homem tem desejo natural de saber; mas, que aproveitará a ciência, sem o temor de Deus? Melhor é, por certo, o humilde camponês que serve a Deus, do que o filósofo soberbo que observa o curso dos astros, mas se descuida de si mesmo. (...) Renuncia ao desordenado desejo de saber, porque nele há muita distração e ilusão. Os letrados gostam de ser vistos e tidos por sábios. Muitas coisas há cujo conhecimento pouco ou nada aproveita à alma. E mui insensato é quem de outras coisas se ocupa e não das que tocam à sua salvação".

Santo Tomás de Aquino, por sua vez, ensina que "por haver dois modos de julgar, deve a sabedoria ter dois sentidos". E explica que "o primeiro modo de julgar as coisas divinas pertence à sabedoria enquanto dom do Espírito Santo", e o segundo "se adquire por estudo, embora sejam os princípios recebidos pela revelação".

É preciso tomar cuidado com o pensamento revolucionário que se traveste de busca pela igualdade, tão comum em nossos dias. Havemos de nos acautelar contra perda do foco e do propósito das coisas, e de termos em mente sempre os novíssimos do homem. É preciso pensar que nossa eternidade não será neste mundo, e que nada aproveita tanto estudo sem a graça santificante, sem a fé, sem virtudes.

Sobre a "busca da verdade" que se defende no texto em questão, deixamos o auto-explicativo diálogo entre Pilatos e Nosso Senhor:
- Quid est veritas?
- Est vir qui adest.


Por: Suelen Lechuk


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